Depois que o homo sapiens (será sapiens mesmo?) extraiu quase tudo que podia da Natureza para
fabricar coisas “úteis” que mais tarde ele descobre que não eram tão úteis assim
e viram lixo, ele “sabiamente” entrou na Era da Reciclagem numa tentativa,
tardia, de salvar a mãe Natureza e a si próprio.
Assim, embarcando
nesta “onda ecológica” pensei que talvez fosse interessante também reciclar idéias, e é com este espírito que apresento o último post de 2012.
Trata-se de um
procedimento que considero bastante útil e que eu mesmo, confesso, às vezes,
esqueço de usar: - testar transistores
no circuito.
Todos nós da
confraria dos reparadores inveterados nos acostumamos a testar estas criaturas
(os transistores) com o multímetro, seja o velho analógico ou moderno digital,
pelo método estático de verificar apenas o estado das junções.
Cada um destes
instrumentos tem seus prós e contras e eu costumo dizer que a única medida
confiável é aquela que indica que o safado do transistor está mesmo bichado seja
por uma junção em curto, aberta ou com fuga. Fora isso a dúvida permanece,
principalmente no caso da fuga, pois nas condições reais de operação o
transistor bonzinho pode se comportar como um transistor lobo mau.
Estamos carecas de
saber que há situações em que a tensão ou corrente que o multímetro aplica ao
transistor para indicar o comportamento de cada junção pode não ser suficientemente
alta para deflagrar uma fuga que só irá aparecer nas condições dinâmicas do
circuito.
Então qual a
solução? Medir o transistor in loco,
não pelo método de verificar junções e sim pelas polarizações.
Além do mais, nos
dias atuais com as placas repletas dos “adoráveis” transistores smd parece não
restar outra alternativa, pois cada retirada de um transistor da placa pode se
transformar em sérias dores de cabeça, quer pela destruição da placa, do
pobrezinho do transistor ou do seu sumiço (estes transistores parecem ter DNA
de pulga, como pulam).
Alguém poderia
contra argumentar que nem sempre isto é possível, já que muitas vezes o
equipamento nem liga ou já sai queimando o fusível de imediato.
Para a segunda
hipótese a lâmpada série talvez ajude, já para a primeira é preciso analisar
caso a caso.
De qualquer
maneira a minha proposta não é apresentar uma solução definitiva, até porque esta
solução não existe, e sim dar uma alternativa a mais para aquelas horas que
bate o desespero e você a querer jogar o aparelho pela janela.
Reparação é um
trabalho de detive e, portanto para cada “crime” temos que buscar uma
estratégia própria para encontrar o criminoso.
No reparo de
equipamentos eletrônicos como na criminologia vale a máxima: - não existe crime
perfeito.
Um defeito
bastante comum em transistores bipolares, e que nem sempre os multímetros
detectam, é uma fuga na junção base-coletor a qual provocará uma grande
corrente de fuga no coletor e, portanto indesejável.
A figura 1 mostra com
a seta pontilhada o caminho desta corrente indesejável.
Esta fuga
base-coletor, em alguns casos, até poderia ser encontrada com a escala ôhmica
dos antigos multímetros analógicos que operavam com tensão de 24 V, mas
dificilmente será detectada com os digitais ou analógicos “fraquinhos” que
temos hoje no mercado.
Entretanto, medir
essa fuga com o multímetro vale para os transistores gigantes do passado, mas
não para os microscópicos SMD de hoje.
E como descobrir
uma possível corrente de fuga na junção base-coletor sem tirar o transistor da
placa?
Usando a teoria. Afinal
consertar algum equipamento eletrônico hoje há muito que deixou ser um simples
troca-troca de peças como no tempo das válvulas onde muitos
técnicos-dinossauros ainda vivem.
Diz a boa e velha
teoria dos transistores que quando um transistor é levado ao corte deverá parar
de conduzir e, por conseguinte a corrente de coletor deverá ser praticamente
nula.
Sendo assim, se
forçarmos a barra provocando um curto momentâneo na junção base-emissor e medirmos
a tensão sobre o resistor de carga do coletor descobriremos se o nosso
transistor-suspeito é culpado ou inocente.
Antes, porém meça
a tensão sobre o resistor de coletor (RL) e anote o valor
obtido para poder comparar e ver se houve alguma alteração. Acompanhe na figura
2.
Figura 2.
Ao forçar o curto
entre base-emissor a tensão medida anteriormente deverá cair para próximo de
zero volt porque você acabou de provocar o corte do transistor.
Na prática talvez
apareçam alguns mili volts o que é aceitável porque o transistor ideal só
existe nos livros de eletrônica.
Se a tensão não
cair drasticamente isso indica que a junção base-emissor do transistor deve estar
em curto e por isso, ao provocar o curto nada mudou.
Supondo que a
tensão caiu, basta dividir o valor da tensão medida sobre RL pelo
valor ôhmico dele e encontraremos a corrente de fuga que estamos procurando. É
a Lei de Ohm em ação.
O valor desta
corrente deverá ser de poucos micro ampères para que possamos considerá-la
aceitável.
Na figura 2
aparece uma interrupção do resistor de polarização de base. Nem sempre esse resistor existe e minha
recomendação é que você faça a medição sem se preocupar com ele. Se surgir alguma dúvida, ai sim procure-o e
interrompa sua ligação com a base.
Outra questão a
ser considerada, principalmente nestes tempos de componentes SMD, é quanto a
resistores abertos e/ou capacitor em curto.
Estes micros
componentes são bem mais vulneráveis que os antigos resistores e capacitores
grandes, portanto olho neles (e com lupa, senão não dá para ver!).
A medição das
tensões de polarização de um transistor pode também nos levar a concluir que
não é ele o vilão e sim os componentes periféricos que o polarizam.
Repito, não dá
mais para consertar por tentativa a erro.
Hoje é preciso entender como o circuito funciona e usar mais o cérebro
do que o ferro de solda.
Outro mal que
costuma afetar os transistores é o curto da junção coletor-emissor. Neste caso
a transistor passa a se comportar como saturado e a tensão entre coletor e
emissor será quase nula.
É claro que se o
transistor estiver sendo utilizado como porta digital temos que levar em conta
a polarização na base. Se a tensão
base-emissor for maior que 0,6 V o transistor está saturado e a tensão coletor-emissor
deverá ser quase nula mesmo.
Outras mazelas dos
transistores são: emissor aberto e coletor aberto.
Figura 3
Se desligarmos o
resistor mostrado como Rb na figura 3 e não conseguirmos medir nenhuma queda de
tensão em Ra isto indica que devemos ter emissor aberto.
Por outro lado se
a tensão base-emissor for da ordem de 0,7 V e ainda assim a queda tensão no
resistor de coletor for nula temos um transistor com coletor aberto.
Um fato que o
reparador deve levar em conta, principalmente em placas SMD, e a
possibilidade de trilhas abertas ou soldas quebradas junto aos componentes.
Isto nos dará um
falso positivo, ou seja, pode nos levar a concluir que o defeito é no transistor
quando na verdade temos uma falta de conexão entre ele o componente ao qual
está ligado.
Eu mesmo já passei
por uma situação destas. Quando eu apertava a ponta de prova do multímetro junto
ao terminal do transistor a leitura era correta e o aparelho ameaçava
funcionar. Era só tirar a ponteira e o defeito voltava.
A trilha estava
interrompida microscopicamente junto do ponto de solda.
Para terminar, não
me canso de repetir que reparar equipamentos eletrônicos hoje em dia é tarefa
para Técnicos com t maiúsculo e não para trocadores de peças e muito menos para
um bando de clientes-técnicos que temos por ai que pensam que é só ir num fórum,
descobrir o defeito e depois procurar uma assistência com a pseudo solução na
ponta da língua querendo pagar uma mereca
por um serviço de alto nível e que ele não tem a mínima competência para
realizar.
Foi por isso que
em 2005 eu desisti de ter assistência técnica para não ter que aturar situações
indecentes como estas. Infelizmente
nossa profissão foi avacalhada também por conta de pessoas metidas a técnicos
que não sabem distinguir tensão de corrente e acabaram fazendo que o justo
pague pelo pecador.
Por este ano é só.
Em 2013 pretendo
manter uma regularidade nos post e trazer coisas novas como já anunciei aqui no
blog.
Feliz Natal e até
sempre.
Queria ver um dia os seus artigos nas revistas da editora saber.
ResponderExcluirAlexandre José Nário (Jataúba-PE).
MUITA SABEDORIA ,OTIMAS COLOCAÇÕES !
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